quinta-feira, 9 de abril de 2009

O diferente sentido de sentir o gesto

Ia no autocarro quando dou por mim, para variar, a analisar o comportamento do ser humano. Não é a primeira vez que o faço e a verdade é que me agrada bastante fazê-lo.
O Post basea-se na importância com que o gesto é feito e como é intrepertado/sentido...
Estava uma rapariga novinha, apesar de ela aparentar ter menos idade do que realmente tem e, ao seu lado, estava um rapaz que devia ter a mesma idade da rapariga mas, com um aspecto já mais maduro, vivido e com o modo de pensar mais estereotipado para a idade. Iam os dois muito entretidos a ouvir música e a rapariga ia-se mostrando interessada pedindo para pôr mais baixo, o nome da musica, ia tentando manter um diálogo mas, notando-se ali algo forçado da parte dela! Forçado talvez não seja o termo mais correcto...tímido. O rapaz, por sua vez, agia com a maior das descontracções. Falava...falava e falava...
Dava as suas opiniões e 'fazia' a cabeça da rapariga como a ele já lha tinham feito pois tudo o que dizia parecia retirado dum livro ou uma cópia integral de algo. Ele contradizia-se não notando que o fazia mas, para a rapariga, pouco interessava!
Lembro-me de ouvir que ambos estavam a falar de duas raparigas ao que o rapaz fez o seguinte comentário: 'ah...A 'X' nao..mas a 'Y' sim!!!'
A rapariga, ingénua, perguntou: 'a 'Y' porque?'
O rapaz limitou-se a responder com simples palavras que foram: 'é gira e boa...2+2 sao 4!! dahh!!'
Notou-se algum desconsolo no olhar da rapariga que, disfarçadamente, continuou a ouvir música normalmente.
Algum tempo depois, após mais falas feitas do rapaz, a rapariga enfeitiçada seguia o monólogo atenta, como quem bebe sabedoria dum livro. Livro esse que de certo foi escrito e, que só por si, não sabe nada!
O rapaz disse-lhe que tinha que sair na paragem seguinte. A rapariga parecia que ansiava a despedida como que se esperasse alguma coisa...algum sinal, algum toque, alguma coisa...nem ela sabia o quê!!
O rapaz arrumou o MP3 e saiu do lugar passando pela rapariga e ficando de frente para ela. Falaram um pouco mais até o autocarro parar e, quando o fez, o rapaz despediu-se da rapariga com uma leve festinha no cabelo. Um leve afagar um tanto carinhoso!
A rapariga olhou-o atentamente sem se preocupar em arranjar o cabelo pois tinha ficado despenteado, limitando-se assim a olhar para o rapaz, seguindo cada movimento dele como se fosse a última vez que o iria ver, querendo fotografá-lo mentalmente para sempre.
Começou a pentear-se lentamente e podia ver-se o brilho que os seus olhos transmitiam... Estava feliz e posso dizer, iludida.
Restou-me pensar como um gesto tão insignificante, feito com uma intensão meramente de amizade e carinho, pode induzir a rapariga mal fazendo-a acreditar que tudo é possível, fazendo-a ganhar o dia e sorrir por acreditar apenas na sua realidade sem ver os dois lados do gesto...a intenção.
Devo concluir que devemos libertar-nos para abrir espaço para sentir o que se passa à nossa volta mas, nunca nos devemos esquecer de ver os dois lados da atitude e, nunca nos deixar iludir quando podemos ver para além da ilusão.

Escher

Temos acesso a inúmeras realidades, a diferentes pontos de vista mas, só nos iludimos, se quisermos.




glory.bogz

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